CODA 18 - Vento é o Ar em Movimento

 hoje na Lapa mas em menos de 24 horas verão ou Verão em Lisboa com Sol e povo com a boca escondida...


Gillespie & Eusébio dois amigos que já se foram

1971

Polónia em Varsóvia e frio, vésperas do 1º !!! Festival !!! Internacional !!! de Jazz !!! em Cascais, hotel, gente muita e de todo o lado, poucos comunistas, uma Federação Internacional de Jazz para coincidir com a 'Jamboree' de Varsóvia, o festival de jazz desta cidade que nessa altura já se repetia há décadas. Tinha conhecido 'Dizzy' Gillespie no ano anterior em Newport, outro Festival da cidade que já nessa altura se repetia há décadas e tínhamos ficado amigos por causa das nossa barrigas. D G contou-me a história dele, mostrou-me a cinta que usava, riu-se muito da minha e tirámos fotografias. No Hotel de Varsóvia mais abraços - os que as barrigas autorizavam - e 2 pedidos de Gillespie: que o ajudasse em Lisboa daí a umas semanas a comprar malas e casacos de cabedal e que o levasse a conhecer Eusíbio, the black panther. Foi chegar a Lisboa e ir ali a um hotel em Carcavelos onde Eusébio estava com a seleção, em estágio, para irem jogar contra a Bélgica. 'Muito prazer... conheço-o dos 'Cinco Minutos de Jazz' conheço o músico trompetista Gillespie, tenho discos, gosto de jazz. Muito prazer... conheço-o dos golos que mete ao meu Sporting. Amizade imediata. Gillespie e eu vimos o jogo Portugal-Bélgica sentados na relva ao lado de uma linha lateral que, como certamente sabem, é o pior entre as dezenas de milhares de lugares lá existentes... pior só o dos treinadores que ficam com os olhos ao nível da relva... Empatámos. Eusébio jogou mal e depois fomos todos para casa dele... todos quem? Gillespie JD mais Phil Woods e Sonny Stitt músicos que também vieram a Portugal Cascais o 1º e JD a guiar contente na esperança de morrer num desastre com 3 'génios' do jazz. Uma Festa! Eusébio a pôr discos deles os 3 para saber se eles se reconheciam ou sequer se lembravam. E eles não melhor nada. Para o fim as fotos. Pequenina ao colo de Stitt uma das filhas de Flora & Eusébio. Gillespie sentado. Flora linda. Eusébio ao meio. Phil Woods e eu não ficámos na foto, obvia mente pois a confraternização pertencia a outra raça a alguns dos seus 'génios'. Saímos atrasados para Cascais era já tarde e lá o ambiente fervia... Haden o contrabaixista tinha sido preso pela PIDE pois saudara na véspera os movimentos de libertação das então chamadas... colónias.
Cerca de 20 anos depois a cena foi mais dolorosa. Gillespie em Lisboa como ator num fiilme. Passámos uma tarde à conversa a sós noutro hotel de Lisboa. Estava velho, cansado, memória boa, humor vivo ainda... tocava + de 300 concertos por ano!!!, recordámos convivências, assinou-me sua auto biografia, cantou notas de temas misteriosos aqui e ali, senti que estava a viver momentos da minha História, que nunca + o iria ouver, adormeceu sentado no sofá, fiquei sózinha a mirá-lo a rever-lhe a vida, acordou, despiu-se deu banho à trompete. Não sabia... no lavatório da casa de banho em água  morna, soprando para a despejar, corpo de velhote, pescoço que incha, tenso, bochechas históricas.
E Eusébio? vou chamá-lo disseu. Apareceu. Grande abraços e o inglês foi dispensado. Só gestos e ruídos, métodos que só a Cultura sabe. Eusébio ofereceu-lhe sua bio em banda desenhada. 'Dizzy' exultou.  Segui-o e à equipa de filmagens até ao local das próximas cenas num Hospital psiquiátrico longe do hotel mas em Lisboa.
John Birks 'Dizzy' Gillespie vestiu uma espécie de pijama com riscas horizontais parecido com farda de preso ou uniforme de louco.

Bye dear 'Dizzy'...

'quem me tapa os olhos não me cega, porém impede-me de ver'
Fernando Pessoa

Peço a palavra e tomo-a a Jorge Mourinho amigo antigo que conheci com  discos jazz em Lisboa a quando foi publicada uma 'coleção' de CDs jazz - os melhores - e que celebrou um aniversário dos 'Cinco Minutos de Jazz' de segunda a sexta os quais cinco minutos hoje já ultrapassaram os 56 anos de vida só! 
pois J M publicou no jornal 'Público' que é diário (cumo o saudoso ex-DL) onde escreve  uma - posso dizer - página... mas não é... é quase... pouco lhe falta uma coluna estreita talvez... onde num texto informativo impecável escreveu sobre um cineasta que uma vez e duma maneira brilhante ***** se entregou ao jazz uma melhor black music from the united states of america and more...
já sabia mas mesmo assim + triste ainda fiquei é que seu trabalho é sobre um realizador de cinema - especialidade conhecida por J M - de seu dele nome Bertrand Tavernier viveu entre 1941 e 2021 este ano civil com 79

diz J M em: 

"Bertrand Tavernier um cinéfilo apaixonado"                                                  (pelo jazz acrescenta quem escreve à máquina... JD)

'... o  filme que será recordado de entre as suas 23 longas de ficção será quase de certeza 'À volta da meia noite' (1986) inspirado em personagens reais sobre a cena jazz parisiense  do pós-Segunda Guerra Mundial e que valeu o Óscar de melhor banda-sonora original a Herbie Hancock. O veterano saxofonista n-americano Dexter Gordon que seria nomeado para o Óscar interpretava um músico exilado com um amador jazz local (François Cluzet) que o ajudaria a "entrar nos eixos". Um filme extremamente pessoal para Tavernier ele próprio grande entusiasta de jazz..." 

outra notícia: in "A Batalha - jornal de expressão anarquista" de dez/abr 2021 na 1ª página com '100 anos da morte de Kropotkin' e na página 40: 
"Há um século: a criação do PCP" por João Freire

'they fuck you up
your Mum and Dad'  
de Philip Larkin
citado em 'Depressãozinhacrónica de Clara Ferreira Alves - revista Expresso 30 dez 1995

live on tape
ao vivo mas gravado
com 3 três horas cada um todos os programas 'Outras Músicas'                       de José Duarte na RTP de 1990 a 1993 

de 'Os apocalypses de Jomo Scura Lacrima' versão de Jerónimo Nogueira em 2020:

'não estranho o lado irreal da noite
cheira-me que luz'

'na noite vagabundos
na disputa companheiros
cegos sempre no mimar
e, tropeçando enredos, mendigos doutro lugar'

'é como quem não vem
é como quem não lê
é como quem não tem
é como quem não crê
é para que se saiba
que o que não se vê
na vista sempre nos caiba!'

'sou um cego invisual que pede desculpas aos transeuntes que não o vêem'

ver só com os olhos
é fácil e vão
por dentro das coisas
é que as coisas são        de Carlos Queiroz

livro P O E Z Z
jazz na poesia em língua portuguesa"

ed. Almedina - Coimbra: maio 2004
edição esgotada - aquisiçao difícil
não é um livro é um calhamaço!... com 460 páginas!!!                                     para ler e fixar o que leu
as Mulheres poetas: Natália Correia, Noémia de Sousa, Ana Hatherly, Ana Mafalda Leite 
alguns dos Homens poetas: Almada Negreiros, José Gomes Ferreira, Carlos Drummond de Andrade, Adolfo Casais Monteiro, Mário Dionísio, Jorge de Sena, Agostinho Neto, José Craveirinha,Eduardo Guerra Carneiro, Levi Condinho, Fernando Assis Pacheco, Vasco Graça Moura & muitos + 

deles um escrito de Natália Correia (1923-1993):

Cidadania

Buqué de ruídos úteis
o dia. O tom mais púrpura
do avião sobressai
locomovida rosa pública

entre os edifícios a acácia
de antigamente ainda ousa
trazer ao cimo a folhagem
sua dor de apertada coisa

um solo de saxofone excresce
mensagem que a morte adia
aflito pássaro que enrouquece
a garganta da telefonia

em cada bolso do cimento
uma  lenta aranha de gás
manipula o dividendo
de um suicídio lilás

em Poezz trabalharam: Manuela Barreto Nunes, Helder Leitão, Artur Queiroz, Levi Condinho, Ricardo António Alves, José Duarte

'quando sou boa sou muito boa
quando sou má ainda sou melhor'
Mae West

o futuro não existe
o futuro não existe
o futuro não existe

'... mas Audrey Hepburn sabrina muito bem o que franzina!...'

José Sesinando
in JL 21julho1992


Camilo por Aquilino

'que a alma peregrina de Camilo se torne transparente como o cristal de rocha para entretenimento do espírito guia e lição das nossas faculdades e analisar em suma o homem e os seus pares ambiente e fantasmas'

escreveu Aquilino Ribeiro (1885-1963) para 'O romance de Camilo' de 1957
com ilustrações no texto de Júlio Pomar e 9 litografias no texto a preto e a cores de Carlos Botelho 

é um livro pesado grande e encadernado é o romance de Camilo Castelo Branco escrito por Aquilino Ribeiro homem este que apreciei calado em Lisboa no Chiado na livraria Bertrand onde se reunia com outros mas poucos

«não há notas erradas... em não sescrevem notas... não são precisas»
Eric Dolphy saxofonista

e está tudo (mal) dito melhor quase tudo

«boa noite... sou da PIDE!»
«faz o senhor bem... e se não fosse o senhor andavam prái a dizer: acabou a PIDE»

Jazzé do Arte
re voltem!...













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